Faz algum tempo que aqui estou.

Não sei ao certo onde é o “aqui”, nem muito bem quem sou. Continuo perdido de mim e sem qualquer indício que isso mude.

No entanto, não me sinto aqui tão mal como imaginei que me sentiria. Desconheço a razão, mas estou um pouco mais sereno desde que aqui cheguei.

É certo que tudo é mais incerto e, de certa forma, nublado. Durante o dia, o sol está sempre tapado pelas nuvens cinzentas. E nas noites, apesar de conseguir ver ocasionalmente o brilho das estrelas, o vento é sempre frio e constante.

É estranho como tudo aqui é estranhamente estranho. Os dias e noites passam sem mostras de ter algum ritmo ou cadência. Existem dias que parecem eternos e noites que nunca mais tem fim. 

Mas no início não era assim. 

Tenho quase a certeza de que quando aqui cheguei a passagem do tempo era… mais normal? 

Penso que sim. Amanhã não sei. Hoje penso que sim. 

De uma das poucas vezes que um momento pareceu congelar, parei, olhei pela janela e fiquei a ver a dança das árvores e das estrelas lá fora. Ao ouvir o vento, uma noção de que estava aqui sozinho abateu-se sobre mim e pensei que tinha chegado a hora de seguir em frente. Mas não o fiz. Sinto que há muito que estou para fazê-lo, mas que nunca o faço. Quando estou quase decidido, o que sinto por este meu novo mundo expande-se e invade-me, envolvendo todo o meu ser num sentimento tão único, profundo, belo e triste, que apenas pode pertencer a este lugar. Aqui.

E assim, vou-me deixando ficar por aqui, a um milhão de quilómetros de distância de quem já fui e cada vez mais perto do meu novo eu.

Aqui pertenço. E de uma forma ou de outra, sempre pertencerei.

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I’ve been here for some time.

I am not sure where “here” is, or who I am. I am still lost and without any indication that this will change.

However, I don’t feel here as badly as I imagined I would. I don’t know why, but I’m a little more serene since I got here.

It is certain that everything is more uncertain and, in a way, cloudy. During the day, the sun is always covered by gray clouds. And in the evenings, although you can occasionally see the brightness of the stars, the wind is always cold and constant.

It’s weird how everything here is weirdly weird. The days and nights pass without showing any rhythm or cadence. There are days that seem eternal and nights that never end.

But in the beginning it was not like that.

I’m pretty sure that when I got here, the passage of time was … more normal?

I think so. Tomorrow I don’t know. Today I just think so.

One of the few times that a moment seemed to freeze, I stopped, looked out the window and watched the trees and stars dance outside. Hearing the wind, a sense that I was here alone came over me and I thought it was time to move on. But I didn’t. I feel like I’ve been wanted to do it it for a long time, but I never do it. When I am almost decided, what I feel for this new world of mine expands and invades me, enveloping my whole being in a feeling so unique, profound, beautiful and sad, that it can only belong to this place. Here.

And so, I am letting myself stay here, a million kilometers away from who I once was and getting closer to my new self.

I belong here. And in one way or another, I will always belong.